19 maio 2008

> A Grande Escavação

Imagem cedida por Massachusetts Turnpike Authority
O túnel Ted Williams

Agora que olhamos alguns dos princípios gerais sobre a construção de túneis, vamos observar o projeto de um túnel atualmente em progresso e que continua a chegar às manchetes de jornais, tanto pelo seu potencial como por seus problemas. A Artéria Central é um grande sistema de vias que passa pelo centro de Boston, e o projeto que leva seu nome é considerado por muitos um dos feitos mais complexos e caros da engenharia em toda a história dos EUA. A "Grande Escavação" é, na verdade, vários projetos reunidos em um, incluindo uma nova ponte e vários túneis. Um dos principais túneis, completado em 1995, é o túnel Ted Williams, que passa por baixo do porto de Boston para receber o tráfego da Interestadual 90, indo do sul de Boston para o aeroporto Logan. Outro túnel essencial do projeto está localizado abaixo do canal Fort Point, uma estreita formação aquática usada pelos ingleses há muito tempo como ponto de pedágio para navios.

Antes de olharmos algumas das técnicas usadas na construção dos túneis da Grande Escavação, vamos revisar o motivo pelo qual as autoridades de Boston acabaram decidindo executar um projeto de engenharia tão gigantesco. O maior problema era o trânsito terrível da cidade. Alguns estudos indicavam que, por volta de 2010, a hora do rush poderia durar quase 16 horas por dia em Boston, o que traria danos profundos, tanto para o comércio como para a qualidade de vida dos habitantes. Estava claro que algo tinha de ser feito para aliviar os congestionamentos e facilitar a vida das pessoas que se locomoviam pela cidade. Em 1990, o Congresso americano destinou U$ 775 milhões ao projeto de melhoria e, um ano depois, a Federal Highway Administration (Administração Federal de Rodovias) deu sua aprovação ao projeto.


Após completadas, as seções foram lacradas para evitar entrada de água de ambos os lados. Então, os operários inundaram a bacia para que pudessem fazer as seções flutuarem e levarem-nas até a posição sobre a trincheira que havia sido escavada no leito do canal. Mas, infelizmente, outro desafio impediu que os engenheiros simplesmente baixassem as seções de concreto até a trincheira: o túnel do metrô da Linha Vermelha da Baía de Massachussetts, que ficava logo abaixo da trincheira. O peso das seções de concreto danificaria o túnel do metrô se nada fosse feito para protegê-lo, o que levou os engenheiros a decidir apoiar as seções do túnel com 110 colunas enterradas no leito rochoso. Elas distribuem o peso do túnel e protegem o metrô da Linha Vermelha, que continua a transportar mil passageiros por dia.


Foto cedida por Cidade de Denver
O processo de impulsão de túneis
A Grande Escavação também apresenta outras inovações na construção de túneis. Para uma porção do túnel que corre abaixo de uma estrada de ferro e uma ponte, os engenheiros escolheram usar a impulsão de túneis, uma técnica que costuma ser usada para instalar canos subterrâneos. Essa técnica envolve forçar uma gigantesca caixa de concreto através da terra. As partes superior e inferior da caixa apóiam o solo enquanto a terra dentro da caixa é removida. Após ter sido completamente esvaziada, macacos hidráulicos empurraram a caixa contra uma parede de concreto até que a estrutura toda deslizasse 1,5 m para frente. Os operários, então, instalaram tubos de espaçamento no vão criado e, ao repetir esse processo várias e várias vezes, foi possível escavar o túnel sem afetar as estruturas da superfície.

Atualmente, 98% da construção associada à Grande Escavação já está completa e o custo passou - e muito - dos US$ 14 bilhões. Mas o resultado para quem trabalha em Boston deve valer o investimento. A antiga Artéria Central elevada tinha apenas seis pistas e foi projetada para receber 75 mil veículos por dia. Já a nova via subterrânea tem de oito a dez pistas e receberá cerca de 245 mil veículos por dia até 2010. O resultado disso é uma hora do rush normal, que dura umas duas horas de manhã e à noite.

Conforme as ferramentas se aperfeiçoam, os engenheiros continuam a construir túneis mais longos e maiores. Recentemente, foi desenvolvida tecnologia avançada de imagens que permite varrer o interior da Terra através da computação de como as ondas sonoras percorrem o solo, o que fornece uma foto precisa do provável ambiente de um túnel: tipos de rocha e solo, além de anomalias geológicas, como falhas e fissuras.

Enquanto essa tecnologia promete melhorar o planejamento de túneis, outros avanços irão acelerar a escavação e a sustentação do solo. A próxima geração de TBMs (máquinas tuneladoras) será capaz de cortar 1600 toneladas de solo por hora. E os engenheiros também já fazem experimentos com outros métodos de corte de rochas, que utilizam jatos d'água de alta pressão, laser ou ultra-som. E em outra frente de batalha, engenheiros químicos estão trabalhando em novos tipos de concreto que endurecem mais rapidamente devido ao uso de resinas e outros polímeros no lugar do cimento.

Com essas novas tecnologias e técnicas, túneis que pareciam impossíveis há apenas dez anos, agora podem ser construídos - por exemplo, o túnel Transatlântico, conectando Nova Iorque a Londres. Este túnel de quase 5 mil km de extensão iria abrigar um trem de levitação magnética, capaz de fazer o percurso a mais de 8 mil km/h. O tempo estimado de viagem? 54 minutos, quase sete horas a menos do que um vôo transatlântico comum.















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